segunda-feira

A Vigésima Quinta Hora

Mc 6.45-52 — Logo a seguir, compeliu Jesus os seus discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. 46 E, tendo-os despedido, subiu ao monte para orar. 47 Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra. 48 E, vendo-os em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite, veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira. 49 Eles, porém, vendo-o andar sobre o mar, pensaram tratar-se de um fantasma e gritaram. 50 Pois todos ficaram aterrados à vista dele. Mas logo lhes falou e disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! 51 E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos, 52 porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.
Reparem que esse texto que lemos nos fala de um momento; nos fala de tempo; nos fala de horas. O v.45 começa dizendo — Logo a seguir...
Ou seja, o texto fala de um tempo seguinte, após a multiplicação dos pães... Esse é um tempo, registrado na cronologia humana, no qual Jesus obrigou os discípulos a embarcar e passar para o outro lado do lago.
O v.47 diz — Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar... — Esse é um outro tempo; uma outra hora, outro registro cronológico.
Nesse tempo agora, estava o barco no meio do mar, e Jesus estava sozinho em terra. O v.48 diz assim — E, vendo-os em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite...
Aqui o texto fala de um outro tempo, uma outra hora, um outro registro cronológico. Vocês estão acompanhando? Se houvesse relógio, naquela época, certamente o evangelista teria escrito de outra forma.
— Às três horas, lá pelas cinco e meia, ao cair da tarde, lá pelas duas e pouco da manhã... — A nossa vida é assim! A nossa vida é toda sinalizada por tempos, por registros cronológicos.
O culto começa às 19:00 horas. A previsão é para terminar por volta das 11 da noite, né? Portanto, dormir, só lá para a meia noite, né? E assim, vamos.
E, assim, o relógio se torna parte de nosso corpo. Tem gente que, nem para tomar banho, tira o relógio, e eles são feitos para isso mesmo, a prova d’água, impermeáveis.
Mas, existe uma hora, existe um tempo, há um registro cronológico, que não integra os nossos relógios. Porque essa hora chega sem aviso.
É o tempo do imprevisto. É o tempo daquilo que não se conta; daquilo que não se espera. É o tempo daquilo que não se prevê; daquilo que, muitas vezes, não queremos.
Esse foi um tempo na vida daqueles discípulos. Depois de cair a tarde, eles já estavam longe da terra, no meio do Mar da Galiléia, num tempo que não tem registro preciso.
O evangelista diz no v.48 — por volta da quarta vigília da noite... Era mais ou menos 3 horas da manhã. Nessa hora eles se viram em dificuldade, e o mar se agitou, o barco ficou ameaçado, o vento era contrário, tudo estava escuro.
Isso não estava previsto. Essa é a hora que não está registrada em nossos relógios. Certamente, você já está com a sua noite toda programada.
Você vai chegar em casa daqui a pouco, é ou não é? Talvez, tome um copo de leite, antes de deitar, ou vá jantar, como eu e Lysia, ou ainda fazer uma visita à sua mãe, ou ver um filme na TV, e é muito justo que seja assim.
Tudo bem definido! Mas, se você sair daqui da Primeirona e ali, no meio da rua, sem qualquer aviso, você for surpreendido por alguma coisa que você não esperava?...
Muda toda a sua cronologia, não muda? Muda todo o seu planejamento. E é assim que acontece com muita gente, com todo mundo.
É a hora que não está em nosso relógio. Essa é a hora mais difícil da nossa vida. Quase sempre! Às vezes, esse não previsto é até bom. Pode ser essa hora não programada que traga uma boa notícia...
Mas ninguém percebe muito essa hora. O que guardamos, o que destacamos é a hora do imprevisto que incomoda, como esta dos discípulos.
A hora de uma tempestade que chegou no meio da noite e que dificultou a navegação e a viagem. É como se fosse a vigésima quinta hora.
Porque, reparem, o relógio marca vinte e quatro horas. Mas essa hora imprevista é como se houvesse uma vigésima quinta. Quem sabe você não está vivendo essa hora, neste momento?
Quem sabe você não está vivendo a sua vigésima quinta hora? Porque, essa vigésima quinta hora, a hora do imprevisto, a hora do não planejado, a hora do que não queremos, é, primeiramente, a hora das trevas, da escuridão, das sombras ao cair da noite.
Estava o barco no meio do mar, e Jesus, sozinho, em terra. E, em seguida, Jesus vendo que eles estavam em dificuldade... Estava escuro.
A noite havia chegado ao Mar da Galiléia. Era a madrugada do Mar da Galiléia! Não era a noite do Tabuleiro. Não era a noite da Primeirona.
Era a noite das trevas, da escuridão, das sombras que envolvem. E nas trevas, é a hora que perdemos as referências. Porque na escuridão não vemos aquilo que nos ajuda a caminhar.
Era uma tempestade. Dizem os outros evangelhos que era uma tempestade. Certamente, o céu estava escuro, a terra estava distante.
Era um mar imenso, encapelado, açoitado pelas ondas. O barco balançando para lá e para cá, e não se via nada. A hora das trevas é a hora da perda das referências.
Nada se vê! Essa é uma hora terrível! Porque, quando temos as nossas referências, nós vamos andando, vamos caminhando. Sabemos para onde vamos, temos a posição de tudo aquilo que orienta a nossa caminhada.
Mas, quando tudo se faz escuro e a luz falta, você sai esbarrando em tudo, tropeça nos outros, e você já não caminha com velocidade... e, ás vezes, resolve parar mesmo.
É melhor ficar quieto, para não se arranhar e esperar que a luz se faça outra vez. A vigésima quinta hora é, antes de tudo, a hora do imprevisto, porque é a hora das trevas, da perda das referências.
Não havia terra para se ver; não havia estrela que orientasse a navegação. Era só o escuro. Quem vive um imprevisto não desejado, sente esta realidade da escuridão que se faz, das trevas que se implantam.
E não há como andar, é ou não é? O caminhar fica difícil. Você tropeça aqui, tropeça ali, bate na parede, se machuca na quina da cama...
Você já viveu isso? A vigésima quinta hora, que é a hora do imprevisto não desejado, não é apenas o tempo das trevas, mas é, também, e por conseqüência, o tempo do medo.
Reparem no v.49 — Os discípulos, porém, vendo Jesus andar sobre o mar, pensaram tratar-se... — De quê? — de um fantasma!
Aquele que vinha pra salvar, aquele que vinha pra recompor a paz e a tranqüilidade do mar; aquele que vinha para cessar o vento, para tornar clara a noite, para revelar as referências de uma boa caminhada, foi identificado, equivocadamente, por um fantasma.
Por quê? Porque a hora das trevas é a hora, também, do medo! Porque, no escuro, tudo se deforma, nada se vê com clareza e nitidez e, aquilo que é, torna-se uma outra coisa.
O Senhor Jesus se torna um fantasma, e a solução de um problema se transforma em pânico! “É um fantasma!” O Senhor Jesus vira um fantasma.
É assim com muita gente que é alcançada pela vigésima quinta hora, a hora do imprevisto não desejado, a hora que não se registra no relógio: A vigésima quinta hora.
É gente, assim, envolvida pelas sombras e pelas trevas, gente sem referências, gente assustada, que não vê solução, que não percebe a salvação que chega.
É gente assim que identifica tudo de maneira equivocada! São as sombras que assustam. Você já esteve num lugar assim, bem escuro?
Um lugar assim, num sítio como a do Zé Roberto, que mora lá na Grota? Você já esteve num lugar assim?
Lá na casa do Roberto e da Elizama é assim. Se faltar luz, é uma escuridão tremenda. E todo mundo corre para dentro de casa para acender uma vela.
Porque, lá fora, as árvores balançam, os arbustos se mexem, os barulhos se intensificam e nós começamos a ver aquilo que não existe.
Eu conheço uma pessoa que jura que viu uma “mula sem cabeça”. Coitado! Era um cachorro muito grande, abaixado, comendo alguma coisa no chão. No escuro parecia um animal sem cabeça.
Porque tudo se deforma mesmo, na escuridão e na sombra, é ou não é? Os movimentos criam imagens de coisas que não existem. Foi assim que Jesus pareceu para eles um “fantasma”.
Aquele que, antes, multiplicara os pães, aquele que, antes, com poder, havia alimentado a multidão, aquele que chegava com a sua figura que tranqüiliza, é aquele que implanta o medo e o pavor.
— É um fantasma! Foi assim! — As sombras e as trevas fazem isso conosco. Ninguém gosta de escuridão!
Mas, a vigésima quinta hora é assim > a hora que não está no relógio, a hora do imprevisto, a hora do não desejado. É a hora das trevas, da perda das referências.
E, por isso, é a hora do medo, quando tudo se deforma, quando as imagens se fazem assustadoras, quando o que é deixa de ser e, o que não é, se torna real.
Eles viram um fantasma que não existe. Homens! Eu fico imaginando Pedro vendo um fantasma... O grande Pedro, corajoso, forte, pescador, vibrante, impetuoso, voluntarioso, tremendo de medo:
— Misericórdia, João, é um fantasma! André, me dá a tua mão. —Claro que ele não fez isso! Mas ficou com medo, muito medo sim! Porque tem muita gente grande que treme de medo.
Eu também! Eu não sou tão forte e nem tão grande... O que é que você anda vendo por aí? Nessa sua vigésima quinta hora? Você anda vendo fantasmas?
Será que você NÃO está percebendo a chegada do Senhor Jesus? Será que você somente consegue enxergar as trevas? Será que você não tem referência alguma, em meio às sombras da sua vida, sombras que deformam tudo o que você vê?
Será que você NÃO enxerga a providência chegando por sobre as águas da sua tempestade? Você está com muito medo, não é?
Mas a vigésima quinta hora, a hora que não está no relógio, a hora do imprevisto não desejado, que é a hora das trevas, da perda das referências e, por isso, a hora do medo, que deforma a realidade, é aquilo que nos importa agora.
Reparem no v.50 — Mas, logo, Jesus lhes falou — o quê? — Tende bom ânimo! Sou eu.
A vigésima quinta hora, reparem, é a hora de Deus! Sabem por que? Porque não há tempo que não pertença ao Senhor Todo Poderoso.
E, para o Senhor, não existem imprevistos não desejáveis. Para ele, tudo é conhecido, e o tempo é o tempo que se desfaz em sua eternidade.
A tempestade que espantou os discípulos era a tempestade que estava ao alcance do conhecimento de Jesus que os viu lá da terra.
E, vendo-os em dificuldade, foi a eles, andando por sobre as águas. Porque não há tempestade que impeça o caminhar do Senhor Jesus para buscar a cada um de nós.
Essa é a hora da sua escuridão; da perda das suas referências. É a hora do seu medo, mas é, sobretudo, a hora de Deus. E é ele quem chega, desfazendo as trevas e cancelando o medo, dizendo:
— Tende bom ânimo, sou eu! Paz! Não, não sou um fantasma! Vejam o que sou: O mesmo que tem caminhado com vocês. Eu sou a referência que vocês não podem perder.
Ainda que as trevas se instalem, ainda que as estrelas desapareçam por trás das nuvens escuras da tempestade; ainda que a terra não se possa ver na distância do mar que leva você para longe, Eu sou a referência que vocês não podem perder. Sou eu! Não tema!”
Que coisa maravilhosa! Não podemos perder esta referência do Senhor Jesus. Não podemos nunca confundi-lo com um fantasma, ou com alguma coisa que assusta...
O Senhor Jesus tem que ser a nossa fé. Ele é uma realidade inconfundível, na hora da manhã, na hora da tarde, na hora da noite, na vigésima quinta hora.
Não olhe para o seu relógio na sua crise. Antes de olhar o horário da sua consulta médica, antes de verificar o tempo que você tem que ir ao banco para resolver a sua dificuldade financeira, antes de ver a hora que passa e que lhe tira o sono, nas ansiedades de sua vida, veja uma hora que NÃO está no seu relógio.
Tire o relógio! E veja o Senhor Jesus, porque essa é a hora de Deus! E, somente ele pode chegar sobre as águas, para desfazer as trevas, para aquietar o mar e restabelecer a caminhada com a sua voz poderosa, dizendo a você:
— Tenha bom ânimo! Não tema! Sou eu! — E, fazendo cessar o vento, subiu para o barco.
Seja assim, não somente hoje. Seja assim, não apenas nesta hora que o seu relógio marca. Seja assim todo o tempo e todos os dias e, particularmente, nas suas vigésimas quintas horas.
Deus abençoe você! Deus abençoe a Primeirona! Amém?

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