terça-feira

A totalidade da palavra de Jesus

João 20.19–23 — Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! 20 E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. 21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. 22 E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. 23 Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos.
Esse é o relato de uma crise. Crise dos discípulos. Crise de pessoas recolhidas em suas casas, de portas fechadas, com medo, atemorizadas, sem saber o que fazer.
É ou não é o relato de uma crise? Com certeza! Porque as crises, nos levam a esse tipo de comportamento. As crises nos levam ao recolhimento de nos mesmos. Nos levam a introspecção, nos levam à solidão e nos deixam trancados em nós mesmos.
Toda crise promove isso. Uma crise tira das pessoas o gosto pelo encontro, o prazer da comunhão uns com os outros. Porque quando uma crise se instala nas nossas vidas, pelo menos nos seus primeiros momentos, é quase sempre muito aguda, muito forte.
A crise toma a nossa atenção por completo. Tudo a nossa volta parece deixar de existir. Tudo parece deixar de ter importância. Porque o que importa é a nossa crise.
E ali estavam os discípulos trancados em casa, com medo dos judeus, fora da realidade que estava acontecendo lá fora. Ou seja, fora daquilo que estava ocorrendo na rua.
É interessante observar que a crise que nos tranca, a crise que nos isola, é na verdade a crise que parece estabelecer em nós um comportamento de defesa.
Era assim que os discípulos estavam > Dentro de casa, portas trancadas, com medo dos Judeus. Eles queriam evitar que os judeus, que haviam matado o Senhor Jesus, pudessem entrar e matá-los também.
É exatamente isso o que a crise faz em nós. Ela nos isola, ela nos tranca em nós mesmos, porque em nós mesmos existe essa disposição de defesa, de acovardamento...
É preciso ficar escondido, para que aquilo que provoca a crise, não entre, não chegue perto de nós. Mas, reparem, é interessante que o texto, que sugere de imediato uma defesa dos discípulos, que sugere de imediato uma atitude de quem quer evitar a entrada do perigo, é na verdade aquilo que impede a saída.
Eles estavam trancados SIM, para que os judeus não entrassem. Porque os judeus representavam o perigo, mas eles não perceberam que, trancadas as portas, eles mesmos NÃO podiam sair.
É isso o que a crise tem de pior. Na sua fase inicial e mais aguda, se não for resolvida, ela nos tranca de tal maneira, que nada entra, mas também NÃO saímos.
E é terrível quando não temos saída. Essa era a crise dos discípulos. Qual era a saída deles? O que eles podiam fazer?
Diante da realidade da crucificação do Senhor, diante da grandeza do poder daqueles que mataram Jesus, diante da vasta capacidade de intimidação do império romano que sufocava a nação de Israel > O que é que eles podiam fazer?
Gente tão simples, tão humilde, tão sem recursos, sem influência naquela sociedade. Gente sem saída, de portas fechadas, não para que não entrassem os judeus, mas sem perceberem, para que eles mesmos não pudessem sair.
Tem gente vivendo crise assim! Tá na crise e não sabe como sair! Há poucos dias uma pessoa me procurou, expôs seu problema e declarou: — Pastor, não sei o que fazer!
Essa é declaração de quem não tem saída, de quem está de portas trancadas, de quem está procurando evitar que o perigo entre, mas sem perceber que NÃO pode sair.
Aquela pessoa queria uma solução, queria que uma porta fosse aberta. Mas ela se trancou de tal maneira, que não sabia mais abrir. Era tanto o seu medo, era tanta a sua fuga, que ela se trancou de uma maneira que não abria mais.
Era como se aquela pessoa tivesse perdido a chave, ou como se a fechadura estivesse emperrada. Terrível.
Ali estavam os discípulos, em crise. Na crise dos sem saída. Quem sabe essa é a sua crise hoje? Quem sabe você olha a sua volta e não vê uma janela? Você não vê uma fresta, você não vê coisa alguma! Não tem para onde ir e não sabe o que fazer.
E não sabe com quem contar, porque tem medo de tudo e de todos e desconfia de tudo e de todos.
Porque, quem sabe, você foi enganado durante muito tempo. É como aqueles homens pareciam estar. Eles se sentiam enganados por Jesus.
Jesus que lhes acenara com tanto, e agora se revelava morto. Reparem, não era esse o desanimo dos discípulos no caminho de Emaús, quando Jesus caminhou ao lado deles?
Naquela ocasião, o que eles disseram ao Cristo Ressurreto, que eles não haviam conseguido identificar? Eles disseram: — Mas nós pensávamos que Ele haveria de redimir Israel. Nós pensávamos, que ele ia nos transformar numa realidade maravilhosa. E agora Ele está morto!
Fomos enganados por esse homem! É verdade que Ele manifestou muito poder. É verdade, que Ele sinalizou com uma capacidade extraordinária de realizar. Mas Ele agora está morto!
Assim estavam os discípulos! Ainda que eles tivessem ouvido a noticia das mulheres, que descobriram no túmulo que Cristo havia ressuscitado.
Quem sabe você não se sente assim! Como quem foi enganado! E aí, para não ser enganado mais, você se tranca. E ninguém entra, mas também você não sai.
Nesse texto, às vezes isso escapa a muita gente! Estava tudo trancado para não entrar. Mas eles não percebem que também não podiam sair.
Porque o medo é assim mesmo, o medo imobiliza, o medo exclui, o medo faz as pessoas solitárias. O medo engessa as pessoas!
A não ser que o medo se transforme em força realizadora. SIM! Porque o medo algumas vezes também faz isso. Tem um filme que passou na TV > “Beijos que matam”.
Esse filme falava de um maníaco sexual, que prendia mulheres num lugar deserto. Um lugar aparentemente sem saída, e elas com tanto medo nada faziam, e obedeciam cegamente as ordens do homem. Até que uma das mulheres, movida pelo medo, resolveu fugir...
Portanto, não se preocupe tanto com seu medo. Preocupe-se com aquilo que você faz do seu medo. Porque o medo não é de todo ruim, não!
O medo que imobiliza é também o medo que faz andar. O medo que engessa, pode ser o medo que liberta. Porque foi assim com os discípulos.
Reparem, eles ali imobilizados pelo medo, aí chega Jesus. Não se sabe como! O texto não diz. Provavelmente, na sua realidade de ressurreto, o Senhor passou pela porta trancada.
Não sei! O texto não diz. Só diz que Ele estava ressurreto. Uma realidade física nova. Uma realidade que nós um dia experimentaremos. E essa realidade física pode ultrapassar as paredes de uma casa, não sei!
Ou quem sabe, Jesus já estava lá? E eles não o tinham identificado. Porque no caminho de Emaús, Jesus caminhou com eles, e eles não reconheceram Jesus.
Quem sabe Jesus já estava dentro da casa e eles não viram. Só depois que Ele lhes mostrou - como diz o texto no v.20 – as mãos e o lado. Leiam com cuidado!
Estou apenas levantando hipóteses, não estou afirmando. Mas a verdade é que lá estava o Senhor Jesus a lhes dizer o quê? Qual é a primeira palavra de Jesus? (v.19 e 21) Paz! Paz seja convosco!
O que é isso? Você poderia imediatamente responder que Jesus está dizendo uma saudação. No oriente era assim! E ainda é! Paz, Shalon! Mas Jesus diz isso duas vezes. Já havia chegado, já havia saudado.
— Paz seja convosco! — É isso que Ele veio restabelecer. A paz que seus discípulos haviam perdido. Jesus veio restabelecer a PAZ naqueles homens. Mas sabem por quê?
Porque aqueles que lá estavam dentro da casa somente tinham retido o que era concreto, na palavra de Jesus. — Eu vou morrer! — Não foi isto que Ele disse. E Ele estava morto para os discípulos.
Era disso que eles sabiam, era isso que eles conheciam, essa era a realidade imediata, concreta, palpável dos discípulos. Eles haviam perdido a totalidade da palavra de Jesus — Vou morrer, mas ao terceiro dia ressuscitarei. — Essa parte final eles esqueceram.
Ainda que as mulheres tivessem vindo e tivesse dito — Olha Ele ressuscitou, e vai adiante de vocês! — Ainda que o próprio Senhor Jesus com tanto sinais de poder e força tivesse afirmado: — Eu ressuscitarei e estarei convosco até o fim.
Ainda assim essa palavra havia se perdido neles. Só lhe restava o que era concreto; a morte do seu mestre. E não é isso que geralmente nos resta?
Porque é que muita gente não traz o dizimo? Ou todo mundo traz? Acho que não. Por que é que há pessoas que não trazem os seus dízimos com fidelidade.
Sabem por que? Porque só conhecem metade da palavra. E trabalham com aquilo que é concreto, que é imediato, que é palpável, com as suas contas e seus saldos.
Não percebem aquilo que ainda virá. A providencia, o cuidado, o amor, a prosperidade. É só isso. Essas pessoas trabalham com o que têm, não com aquilo que podem ter.
Trabalham com aquilo que é, não com aquilo que pode vir a ser. Os discípulos trabalhavam com a realidade do Cristo morto. Ou seja, não tinham mais a consciência do Cristo que haveria de ressuscitar. E ressuscitado Jesus ali estava.
Não é essa a natureza da nossa fé? — A fé é a certeza das coisas se esperam e a firme convicção de fatos que se não vêem (Hb 11.1).
A fé não se faz nas coisas que são, mas sobretudo nas coisas que serão. Se não, não é fé. Não! Eu trago o dizimo, porque eu não faço as minhas contas para isso, faço para outras coisas.
Eu trago o dízimo porque Deus há de repor o que trago e multiplicado. Ele diz em Ml 3 — Eu abrirei as portas dos céus e derramarei sobre vós bênçãos sem medida.
Ali estavam os discípulos em crise, não por causa dos Judeus que os ameaçavam, mas por causa deles mesmos. Porque tinham perdido a totalidade da palavra de Jesus, viviam somente da metade da Palavra.
“Eu morrerei!” Essa era a metade deles. Mas Jesus veio trazer a outra metade para recompor a totalidade da palavra e disse (v.20) — Aqui Estou, Ressurreto, vejam as Minhas mãos, olhem o Meu lado.
Em nada eles eram diferentes de Tomé. Porque não acreditaram no testemunho das mulheres, assim como Tomé não acreditou no testemunho deles. Só depois que Jesus chegou e lhes revelou a realidade de seu corpo ressurreto, trazendo as marcas do seu sacrifício.
O que é que você tem nas mãos hoje, de concreto? A sua enfermidade? A sua preocupação financeira? Os seus anseios ainda não atendidos? As suas dores, as suas inquietações, somente isso? Então você só tem a metade.
Você está em crise, você está trancado? Ninguém entra, mas também você não sai! É preciso ouvir a voz de Jesus, que recompõe a inteireza das coisas e diz: — Paz seja convosco.
Porque não há Paz na crise. Aquilo que vocês esperavam que fosse já é. O saldo que ainda não se recompôs, já está recomposto. O anseio ainda não atendido, já está atendido.
Porque não há porta fechada, parede por mais grossa que seja, que impeça a minha chegada. Porque, na verdade, já estou no meio de vocês!
Eu prefiro até pensar que esta hipótese é melhor. Porque não é assim? Deus está conosco sempre. Porque, no dia que eu fechar a porta, Ele já está lá dentro comigo. E ainda bem!
E o Senhor Jesus está me dizendo o tempo todo: Paz seja contigo! Paz seja contigo! Abre a porta! E ele diz aos discípulos (v.21) — Assim como o Pai Me enviou, Eu também vos envio.
Não é aqui dentro, é lá fora. Não é na solidão da sua vida, mas é na comunhão de todos a sua volta. Não é no imobilismo da sua fé, mas é na dinâmica das suas convicções.
Onde é que você está? Trancadinho? Todo protegido, que bom? Só que você não sai. Tem que sair, mas não é sair de qualquer jeito. Não é sair decepcionado, como eles estavam. Não é sair sem a certeza.
Mas é sair na confiança que esta palavra de Jesus nos traz. — Paz seja convosco! — E o que será já é. E o que virá, já veio. O que ressuscitará, já ressuscitou.
Deus abençoe você. Deus abençoe a Primeirona. Amem!

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